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Foto do escritorCarlos Frederico de Almeida Rodrigues

BIOÉTICA, FAKE NEWS E PÓS-VERDADE

Atualizado: 10 de jun. de 2020


BIOÉTICA, FAKE NEWS E PÓS-VERDADE.

Cada época histórica da humanidade é marcada por certas “palavras chaves” que se tornam uma espécie chave para a compreensão daquele momento, no aspecto cultural, socioeconômico e político.

Hoje, vivemos a chamada época do “Bios”, que teve início com a descoberta da dupla hélice do DNA (Watson e Crick, em 1953) que inaugurou entre nós a chamada “era genômica, como uma instigante novidade, singular atrativo do progresso técnico cientifico, com promessas de “revoluções milagrosas”, mas também trazendo serias questões e inquietudes relacionadas com o futuro da vida no planeta e o quanto não ficará manipulável e vulnerável a identidade do ser humano neste contexto. Os economistas afirmam que a “biotecnologia” será o carro chefe da economia neste século XXI. E a ladainha do novo dicionário de palavras que se inspira em “bios” aumenta muito rapidamente: biologia, biogenética, biogenômica, bioterrorismo, bioerro, biopoder, bioestatística, biocombustíveis, biodiesel, biodegradáveis (Produtos), biogerontologia, biodiversidade, biociência, bioenergética, bioenergia, bioengenharia, bioequivalência, bioestatística, biofísica, bioinformática e tantas outras.

Nesta contemporaneidade marcada pelo reinado do “bios”, apresenta-se também a mentalidade o ideologia do “pós tudo” .... Enfim, vivendo num momento de mudança de época, mais que de uma época de mudanças, falamos de: pós modernidade, pós-humanismo, pós- cristianismo, pós-genômica, e agora também, pasmem senhores, algo um tanto mais sofisticado e sutil, a “era da pós-verdade”! O que seria isto?

Pós verdade foi eleita palavra do ano 2016 pelo dicionário 'Oxford', da prestigiosa Universidade de Oxford (Inglaterra) que que anualmente elege uma palavra nova para a língua inglesa. A de 2016 é no original inglês 'post-truth', ou seja 'pós-verdade'. Em 2015, a palavra escolhida foi um Emoji – mais especificamente, aquela carinha amarela que chora de tanto rir.

O Dicionário Oxford, além de eleger o termo, definiu 'pós-verdade' como sendo “um adjetivo que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.

Segundo a Oxford Dictionaries, o termo “pós-verdade” foi usado pela primeira vez em 1992 pelo dramaturgo sérvio-americano, Steve Tesich. Mas quem mais ajudou para a sua divulgação e popularização mundial foi a revista The Economist, desde quando publicou em setembro de 2016, o artigo 'A arte da mentira'.

Na matéria de The Economist, o mundo teria entrado na 'era política da pós-verdade', especialmente depois que os britânicos ignoraram os alertas sobre o 'Brexit' e votaram por deixar a Comunidade Europeia, e os americanos desprezaram das graves advertências sobre Donald Trump, elegendo-o como Presidente Norte-americano.

A tese da revista The Economista é que a pós- verdade se disseminou por culpa da internet e das redes sociais. “A fragmentação das fontes noticiosas criou um mundo atomizado, em que mentiras, rumores e fofocas se espalham com velocidade alarmante”, diz a publicação. “Mentiras compartilhadas online, em redes cujos integrantes confiam mais uns nos outros do que em qualquer órgão tradicional de imprensa, rapidamente ganham aparência de verdade”.

Não podemos esquecer uma frase dita pelo chefe da propaganda nazista, Joseph Goebbels: “Uma mentira repetida mil vezes vira verdade”. Entre nós, brasileiros, o escritor Millôr Fernandes, afirmava que “o perigo da meia verdade é você dizer exatamente a metade que é a mentira” (A Bíblia do caos)

O neologismo “pós -verdade” tem sido empregado com alguma constância há cerca de uma década, mas ultimamente houve uma aceleração espantosa no uso desta expressão, que cresceu 2.000% em 2016. O Google registra mais de 20,2 milhões de citações em inglês, 11 milhões em espanhol e 9 milhões em português, somente para termos uma ideia de seu sucesso.

“Dado que o uso do termo pós-verdade não mostrou nenhum sinal de desaceleração, eu não ficaria surpreso se ‘pós-verdade’ se tornasse uma das palavras definidoras dos nossos tempos”, afirma Casper Grathwohl – Presidente da Oxford Dictionaries em entrevista ao jornal americano 'Washington Post'.

Este novo neologismo, não seria exatamente o culto à mentira, mas a indiferença com a verdade dos fatos. Eles podem ou não existir, e ocorrer ou não da forma divulgada, que tanto faz para as pessoas, pois não afeta os seus julgamentos e preferenciais pessoais consolidadas.

Na reflexão anterior vimos que o termo “pós-verdade”, como adjetivo, foi consagrado no 2016. Em suma “a verdade dos fatos” é vencida pela emoção e crenças e opiniões pessoais, que não tem compromisso com a verdade.

É um momento em que alguém é capaz de jurar sobre a Bíblia que o” filho do Lula”, é dono da Friboi e de quase todo no País mas não acredita na revista Lancet, por exemplo.

Enfim cria-se uma indústria da pós verdade, das notícias falsas (“fake News”) nas mídias sociais que premiam a mentira e a noticia falsa. O desafio de discernir o que é verdade do que não é verdade aumentou exponencialmente. “A verdade factual” (Hannah Arendt) não pode ser desvalorizada, com checagem de informações, se quisermos uma imprensa ética.

Pesquisa realizadas nos EUA informam que 59% dos leitores só Leem as manchetes das notícias (verdadeiras ou falas) e 25% dos leitores não sabem distinguir as noticiais falsas das verdadeiras, e quando o fazem, ainda acham válida a propagação das informações mentirosas.

A “verdade vos libertará, já disse nosso mestre Jesus. Nunca devemos relativiza-la, toma-la pela metade ou desdenhá-la”. Temos um compromisso ético sério com a verdade dos fatos, da vida e dos acontecimentos.

Premiar a mentira, a meia-verdade ou a notícia falsa, nos cerceia a possiblidade de construir um futuro de uma sociedade democrática, “visto que democracia seria apenas um show de entretenimento”! Acrescentamos que não é a toa que o Marketing bem planejado, tornou-se central nas campanhas políticas, sem compromisso com a verdade, mas turbinado por uma postura falsa e sem escrúpulos, que alimenta o vale tudo para derrubar o inimigo ideológico.

Diz ainda Janine Ribeiro que esta tendência de fazer passar a mentira como sendo verdade “traz um elemento triste. Não é apenas falar uma mentira. Ao dizer ´pós´, é como se a verdade tivesse acabado e não importa mais. Essa é a diferença entre pós-verdade e todas as formas de manipulam das informações que tiver antes. É a ideia de que teríamos deixado um tempo em que nos preocupamos com isso e passamos então a um tempo em que seria avançado relativizar ou mesmo desdenhar a verdade”.

Que pensar de uma sociedade que a partir de seus líderes maiores, desdenham a verdade dos fatos e cultivam a indústria da mentira para destruir o outro muito bem orquestrada com um custoso Marketing? Não podemos ser cumplices da manipulação de mentes, e mentiras deslavadas que nos seduzem por se “apresentam esteticamente como verdades” e que acabam alimentando novos fundamentalismos e fanatismos tanto de direita, quanto de esquerda, tanto no mundo secular quanto no mundo religioso. Curioso que neste cenário a “pós-verdade” é apresentada como sendo uma evolução, um avanço de civilizacional e sinal de salvação!

É preciso insistir e repetir incansavelmente dito do Mestre: “Somente a verdade nos libertará” ... Não existe ética e muito menos bioética em nenhum âmbito da vida humana, sem um compromisso com a verdade!

Nicolelis: “As fake news agora estão matando gente. Não estão só ganhando eleições”

"Nós temos uma batalha da informação, do pandemônio contra a pandemia. E a batalha da informação talvez seja tão importante quanto a batalha sanitária”.

citando como exemplo a declaração de Donald Trump sobre uso de água sanitária no combater ao coronavírus. “Em Maryland, 100 pessoas tomaram”.

“Agora as fake news estão matando gente, estão matando milhares de pessoas. Porque estão propagando coisas que são completamente absurdas”, afirmou, ressaltando que “o mundo das fake news agora está matando gente, não está só ganhando eleição, levando o mundo para o cataclisma econômico”, afirmou o cientista, citando como exemplo a saída da Inglaterra da União Europeia

https://youtu.be/F340Orc8sbY

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