Violência contra profissionais da saúde
- Carlos Frederico de Almeida Rodrigues
- 28 de ago.
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VIOLÊNCIA CONTRA PROFISSIONAIS DA SAÚDE
“ Meu marido falou: um dia eu buscar o seu corpo no seu trabalho.” , desabafou Karina Valverde, técnica de enfermagem agredida pela acompanhante de uma paciente em um hospital da zona oeste de São Paulo.
O episódio ocorreu quando ela e uma colega tentaram organizar o fluxo de acompanhantes dentro da sala de medicação. Após uma discussão, Karina foi agredida com arranhões, socos e tapas pela filha da paciente.
“Não tinha ninguém para me ajudar. O segurança é patrimonial, não interfere nesses tipos de caso. A médica do plantão também havia sido agredida dias antes.” , conta.
Casos de violência contra médicos aumentarem 68% em dez anos, segundo levantamento do conselho federal de medicina.
O problema vai além da segurança física. Segundo o médico e diretor do CFM, Estevam Rivello, os profissionais da saúde têm sido responsabilizados por deficiências estruturais do sistema.. “ A comunicação hoje amplifica os conflitos. Qualquer demora no atendimento vira roteiro para viralizar um vídeo.”
A Associação Paulista de Medicina está preocupada com aumento da violência, nas palavras de seu presidente:” os médicos estão sendo punidos por falhas no sistema. E isso não é justo. Decidimos reforçar o apoio jurídico aos médicos e médicas do Estado de São Paulo que são vítimas de violência.” Ainda segundo a APM, os usuários confundem o médico como representante do sistema, não entendem que o mesmo é um prestador de serviço.
Os dados apontam, segundo levantamento do CFM, que São Paulo lidera os casos de agressão a médicos: 832 Bos foram registrados no estado em 2024 , em segundo lugar vem o Paraná com 767 ocorrências, seguido de Minas com 460 boletins. A maior parte das agressões se dá em Pronto socorro ou UPAs e metade dos agredidos são mulheres.
As agressões promovem a saída de profissionais de locais já historicamente deficitários em assistência médica, fechando um ciclo desumano que perpetua os problemas médicos e sanitários.
As associações e autoridades estão tomando providências, tai como: o lançamento, em dezembro de 2024, da versão atualizado do Gia Lilás pela Controladoria-Geral da União. A iniciativa busca aperfeiçoamento dos processos de tratamento de manifestações relacionadas a assédio e discriminação contra profissionais da saúde.
Análises recentes como o relatório do projeto diálogo produzido pelo Synergos Brasil em parceria com a FGVsaúde e o apoio da J&J Foundation, destacam a importância de adorar políticas integradas para promover o bem-estar e a resiliência dos profissionais da saúde, além, é claro, da melhoria das condições de trabalho. No entanto, urge que entidades públicas e privadas adotem medidas mais firmes e proativas no combate à violência contra profissionais da saúde. É importante lembrar que a violência nem sempre é física., mas inclui uma série de comportamentos que comprometem a saúde mental e emocional dos profissionais da saúde. O assédio moral, por exemplo, é constante com humilhações e desqualificações, mas não para por aí, discriminação por sexo, raça, orientação sexual agravam ainda mais o cenário e aliados à falta de políticas eficazes para a prevenção aumentam o problema.
Antes que se diga ser um problema nacional, há um interessante artigo português (link na descrição) sobre o tema. Em Portugal, segundo o artigo, entre Janeiro e Outubro de 2022 foram reportados 1.347 casos de violência contra os profissionais de saúde. A maioria das vítimas é de médicos (32%) , seguidos de enfermeiros (31%) e de assistentes técnicos (29%). A violência psicológica é mais frequente (67%) e o assédio ocorre em 14% com violência física em 13% dos casos. Comparando com dados do CFM onde 80% dos médicos relatam ter sofrido algum tipo de violência, vemos que embora global, em nosso país a violência é uma constante. Quais motivos desencadeiam essas situações? Segundo o artigo, por suposto, vários motivos são definidos, desde fatores relacionados ao médico, ao usuário, a sociedade ou organizacional. Vamos listar o mais comum em cada situação.
Com o usuário, o agressor normalmente é homem, de escolaridade baixa, com transtornos mentais e uso de álcool, já tiveram experiências prévias ruins no sistema de saúde e não aderem a tratamento ou estão em litígio. Os fatores relacionados com o médico incluem: ser mulher, pouca experiência profissional, trabalhador por turnos, distúrbios como estresse ou ansiedade não tratados de forma adequada, baixa capacidade comunicativa e baixa autoestima. Os fatores organizacionais são falta de recursos, longo tempo de espera, falta de forças de segurança e carga excessiva de trabalho. Já os fatores sociais envolvem: barreiras linguísticas e falta de políticas e leis apropriadas.
O artigo e as pesquisas apontam que para solução do problema devemos criar mecanismos legais que diretrizes bem definidas que punam o agressor e protejam o profissional da saúde. Diminuir tempo de espera, presença de segurança não apenas patrimonial dentre outras.
Concluímos afirmando que cada episódio de violência deve ser tratado como um evento de elevada importância, devendo ser analisadas e implementadas medidas que reduzam as suas consequências e previnam episódios futuros, atuando sobre as suas causas.
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