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Foto do escritorCarlos Frederico de Almeida Rodrigues

PÍLULAS DE FILOSOFIA

Atualizado: 26 de abr. de 2022


12 - A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado - Engels.


Friedrich Engels descreve neste livro a formação da sociedade moderna calcada na propriedade privada, na produção, no comércio e no poder do Estado. Por que então história da origem da família? No entender de Engels, foi com a derrocada da família como subsistia nos moldes primitivos e enquanto célula-mater de uma economia de subsistência, organizada em grupos de interesses comuns, vivendo numa propriedade comum a todos e regida por leis derivadas do poder materno ou do poder paterno em que os laços de parentesco eram vitais para sua sobrevivência harmoniosa e segura e em que não havia produção de excedentes, tornando desnecessário o comércio e o decorrente acúmulo de riquezas, foi com o declínio dessa estrutura familiar primitiva que a sociedade moderna foi se formando.

Por essa razão, a origem da família tem importância neste livro. Com a família " comunista" primitiva, não havia necessidade de agricultura em grande escala, de indústria que jogasse no mercado produtos de todo tipo, uma vez que não havia compra e venda, não havia moeda e, portanto, inexistente era também qualquer espécie de comércio.

Através dos séculos e dos milênios, a família foi mudando de feições suas regras de constituição foram-se alterando, surgem novas modalidades de vida em sociedade que, acrescidas de uma série de outros fatores, desembocam na criação de outras necessidades para além do grupo familiar, dando origem a uma agricultura praticada de modo mais intenso, a uma nascente indústria, a um contato espontâneo ou forçado com outros povos, por meio da expansão do território e da guerra, e a um decorrente sistema de troca, de compra e venda, sistema que viria a ser a atividade comercial.

Todo esse novo sistema reestrutura a família de modo completamente diverso do que era em suas origens e reestrutura igualmente a posse do território, passando a dividi-lo em partes, dando origem à propriedade privada com todos os benefícios e males que dela decorrem. O resto Engels narra e analisa.

O livro de Engels se baseia em grande parte em pesquisas e publicações do cientista norteamericano e historiados da sociedade primitiva, Lewis Morgan.

De qualquer forma, é um livro de leitura fascinante. É a história de nossos antepassados mais distantes, é a história das civilizações antigas, recentes e da moderna, é a história de cada um.

11 - Monarquia - Dante Alighieri.


Mundialmente conhecido por sua obra máxima A Divina Comédia. Dante Alighieri é autor de diversas outras obras, dentre as quais se destaca Monarquia. Esta foi a principal que lhe valeu o exílio, no qual haveria de falecer, embora acalentasse sempre a esperança de poder voltar à sua cidade natal, Florença.

Em Monarquia, Dante deixa transparecer seus profundos conhecimentos de filosofia e o domínio com ue cita passagens bíblicas. Escrito durante os anos de grandes questionamentos e controvérsias envolvendo a autoridade papal em confronto com a autoridade do imperador, Dante elaborou este opúsculo em que defende a independência total do imperador no exercício de seu poder de qualquer ingerência do papa.

O papa Bonifácio VIII havia publicado a Bula Unam Sanctam que, além de criar grandes polêmicas e revoltar muitos reis e príncipes, provocou a ira de Filipe, o Belo, rei da França, que enviou delegados a Roma para prender o papa e levá-lo a Paris, a fim de ser julgado.

Esse documento do papa declarava precisamente que o poder temporal estava sujeito por determinação divina ao poder espiritual. Em outros termos, o papa tinha soberania e poder sobre todos os reis e príncipes cristãos, porquanto a autoridade temporal dependia diretamente da autoridade espiritual, da qual o papa era o representante máximo.

essa doutrina de Bonifácio VIII desagradou não somente ao mundo político, mas também a grandes segmentos da sociedade européia da época que era quase totalmente cristã. Parece que Dante tomou as dores e a desilusão de todos aqueles que eram contra essa doutrina e escreveu Monarquia para provar que qualquer governante não depende, de modo algum, da autoridade da Igreja ou do Papa. Todo o livro gira em torno da argumentação para provar a independência do poder civil do poder religioso, recorrendo à fundamentação não somente filosófica e política, mas também bíblica, importante esta última uma vez que a Igreja se baseava em textos bíblicos para fundamentar sua autoridade sobre todo o poder civil estabelecido na terra.

O livro pode parecer de leitura difícil, mas é interessante e, em certas passagens, até fascinante, mostrando um Dante Alighieri de ideias abertas, sobretudo no campo político, defendendo não somente a independência do poder civil da propalada supremacia do poder espiritual ou religioso sobre ele, mas também a total separação desses dois poderes para o bem-estar do mundo.


Fonte: Alighieri, D. Monarquia. Ed. Escala. SP


10 - Fábulas de Fedro – O falso médico.

Um péssimo sapateiro, atolado na miséria, passou a exercer a medicina numa região desconhecida. Ali, vendia um antídoto sob falso rótulo. (Assim) adquiriu boa fama com (suas) trapaças de verbosidade.

Como, ali, estivesse acamado, em decorrência de grave enfermidade, o rei da cidade, (este a fim de testar a competência do médico) pediu uma taça. A seguir, derramou (nela) água, simulando misturar veneno no antídoto, ordena (ao médico) (que) bebesse sob a promessa de recompensa.

Então, (o médico), temendo a morte, confessou que se tornara célebre não por alguma sabedoria da arte médica e, sim, graças à ignorância do povo.

Fonte:

Fábulas. Fedro. Ed. Escala. São Paulo.


9 - O Sobrinho de Rameau – Diderot. É a arte importante em nossa vida?


É um diálogo filosófico sobre a música e, por extensão, sobre a arte em geral. Diderot repropõe uma especulação filosófica em forma de diálogo, ressuscitando a maneira pela qual os antigos gregos deixavam seu legado filosófico. Pode ser lida ainda como uma sátira contra a sociedade burguesa da época.

No diálogo discute-se diversos aspectos da arte musical e outras manifestações artísticas. Divagam sobre a função da arte no mundo dos homens, sobre a relação arte-natureza, sobre técnica e artifício, sobre bom gosto e belo, sobre invenção e inspiração, sobre harmonia e desarmonia na música e na vida, enfim, sobre os limites possíveis entre o mundo natural e o mundo humano.

A ordem natural se apresenta em toda sua transparência e não pode ser vista como boa ou má, a ordem social é que degradaria e deprimiria os homens. Nem tudo se resume na arte, mas na vida, mesmo com todos os seus percalços, tão bem aliviados pela própria arte


8 - O ATEU E O SÁBIO – ateísmo, crença e teísmo em VOLTAIRE.


“Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo”. Essa frase de impacto é do próprio autor, que longe de ser um cristão, católico, praticante, era um teísta, ou seja, acreditava na necessidade da existência de Deus, embora, crítico feroz da igreja católica.

Voltaire elabora a história de Jenni, onde desenvolve suas ideias sobre a existência de Deus e sobre o homem que, em sã consciência, não pode ser ou considerar-se ateu. Baseado na convicção de que Deus existe, apresenta provas de sua existência, ou melhor, de sua necessidade moral e social, a crença de um ser supremo que castiga o mal e premia o bem.

Ao longo de densos diálogos entre um pastor anglicano e um ateu, Voltaire debate opiniões de ateus da época que prescindiam de um criador de tudo a partir do nada. Evoca autores antigos do cristianismo, desde antes da Idade Média até sua época, para expor a instigante temática da existência ou não de um princípio vivificador.

Considerada por muitos como edificante, a História de Jenni ou o Ateu e o Sábio é uma corajosa tomada de posição de Voltaire sobre essa problemática.


Referências.

O Ateu e o Sábio. Voltaire. São Paulo. Ed. Escala.


7 - A TRANQUILIDADE DA ALMA EM SÊNECA


À primeira vista, o texto de Sêneca, pode parecer mais uma análise psicológica do que filosofia e metafísica. Nos dois primeiros capítulos constata-se as causas empíricas que respondem pelo estado de profunda inquietação da alma, impedindo uma vida tranquila durante a existência terrena.

No capítulo 3, Sêneca, acena para onde vai o tema. Faz uma profunda análise do caos do agir humano, lamentando a ausência de especialistas em ética e mora, aptos para incentivarem os corações da juventude na prática da virtude. Reforça o valor do labor filosófico que capta e ensina o que é justiça, dever e demais virtudes éticas e, ainda, discorre sobre a finalidade última da vida pautada pelo valor máximo da honestidade.

Posteriormente, o livro recai sobre o bem-honesto que a virtude incorpora a fim de adequar a vida com sua finalidade derradeira e suprema que permite o desfrute da existência, mesmo no momento derradeiro, em tranquilidade. Para tanto, Sêneca alerta para os efeitos negativos da riqueza, aconselhando moderação no uso da mesma e a procura do equilíbrio. Para facilitar a posse da quietude, o filósofo faz uma série de advertências para enfrentar os caprichos do destino, que transcendem os interesses pessoais, com honestidade e sem subterfúgios ou fugas, só assim, pode-se viver em paz e tranquilidade.

Referências

1 – A tranquilidade da Alma. Sêneca. São Paulo. Ed. Escala.


6 - A PAZ PERPÉTUA DE KANT.

O pequeno tratado intitulado À paz perpétua, nasceu grande. Publicado pela primeira vez em 1975, na Alemanha, o livro teve várias reedições, tendo logo sido traduzido para o francês. Não é difícil perceber a razão: a Europa vivia um momento de forte mudança, ocasionado pela revolução francesa que, a partir de 1789, apresentava ao mundo uma perspectiva política inovadora. O período do Terror, de 1793 a 1794, anunciava, porém, que esta nova política não estaria liberta dos seus próprios e graves problemas, um horror até então desconhecido. É nesse contexto que Kant publica, em sua velhice, após maturar longamente seu pensamento crítico, um ensaio sobre a paz em um diapasão republicano e cosmopolita, o público culto vê aqui uma chance ímpar para pensar seu próprio tempo. Em primeiro plano estão, obviamente, as possibilidades da paz e a defesa do republicanismo.

A pequena (em tamanho) obra, contudo, vai além, pois não só responde ao seu tempo, mas também formula questões para o futuro. Entre elas, está o problema de como organizar as nações em uma federação, sem que percam sua identidade e autonomia, mas em cujo seio suas divergências possam ser discutidas na forma da lei a fim de evitar o pior fracasso da política, a guerra e seu cortejo de males. Está esboçado o princípio que resultará na Organização das Nações Unidas, um século e meio mais tarde, após guerras ainda mais devastadoras e horrores inimagináveis. O livro de Kant fala assim ao seu tempo, mas também a nós, indagando seriamente sobre o que queremos ser. Livro profundo de um filósofo não menos profundo, cada linha acentua a relação necessária entre ética e política, um estudo contundente sobre nossas perspectivas políticas. Uma grande interrogação sobre nosso futuro.

Fonte:

À paz perpétua. Kant, I. Ed. L & PM pocket, Porto Alegre. 2010.


5- O DESTINO EM ZADIG DE VOLTAIRE

Voltaire tratava temas profundos em seus contos, escreveu dezenas deles, onde expressava sua opinião sobre assuntos controversos e também para responder a posições contrárias de pensadores de sua época. Não é difícil identificar personalidades de destaque em sua época travestidas de personagens de seus contos. Com Zadig não é diferente. Nesse conto diversas personalidades do reino da França da época de Voltaire e, segundo comentaristas, o conto reflete a própria situação do reino francês prestes a cair no caos, na anarquia (o que de fato, se verificou poucos anos depois da morte de Voltaire com a Revolução Francesa).

Zadig é a história de um cidadão da Babilônia, sempre envolvido em peripécias que o destino lhe reserva. Sua vida é feita de altos e baixos que se sucedem de uma maneira que, a à primeira vista, parecem inconcebíveis e fora de propósito. Mas o destino é feito de surpresas. Aliás, ele próprio é uma surpresa, é o novo que evolui e involui, que se completa, se faz e refaz, que abre seus caminhos onde não os há, que oferece e tira, que constrói e destrói, que alegra e entristece, que projeta o futuro, realiza o presente e leva a recair no passado. Apesar de tudo, plenifica e eterniza o ser humano. Todas essas questões e outras ainda, Voltaire aborda em seu Zadig, o homem justo, honesto, sensato, sábio, virtuoso que, mesmo assim, sua vida se perfila num perde-ganha contínuo e interminável. Esse é o destino de Zadig. Não o será também de todos os homens?

Fonte:

Zadig. Voltaire. Ed. Escala. São Paulo. 2007.




4 - A BREVIDADE DA VIDA EM SÊNECA.

Além de ensinar como excogitar os temas práticos da vida com criterioso senso ético, Sêneca descortina, com seu modo didático de escrever, questões profundas sobre o sentido do viver e do tempo de vida.

Ao abordar e elucidar o significado real da vida no seu aspecto de transcurso rápido pelo fluxo do tempo, Sêneca, embora não religioso e ignorando conteúdos doutrinais que, em breve, seriam arquitetados pelos padres da Igreja, apela exclusivamente à racionalidade humana, dissertando acerca da brevidade da vida sobre a face da terra, mas tendo os olhos voltados para o desfrute da eternidade.

Sêneca adverte: ninguém nasceu para o tempo presente. A estadia sobre a face da Terra, do berço ao túmulo, é mero estágio preparatório para a vida que virá após a morte do corpo.

A vida terrestre teria dimensão de prova. Todos somos testados por infortúnios ocasionais como pelas paixões.

Que possamos acolher o que Sêneca frisa com ênfase, a saber; a obrigação de reservar espaço do tempo para a própria pessoa, evitando todo tipo de dispersão fútil e enganosa da vida, já que nossa riqueza sólida é a interioridade. O sábio convive tranquilo consigo mesmo, no diálogo constante da reflexão. Comprovando o velho aforisma: “A vida é breve, mas pela técnica do bem viver, ela se torna longa.”

Fonte:

1 – A Brevidade da Vida. Sêneca. Ed. Escala. São Paulo. 2007.



3 - A Esperança em Nietzsche – Mito de Pandora.


A caixa de Pandora é um mito grego no qual a existência da mulher e dos vários males do mundo são explicados. Tudo começa quando Zeus, o deus de todos os deuses, resolveu arquitetar um plano para se voltar contra a ousadia de Prometeu – que entregara aos homens a capacidade de controlar o fogo. Para tanto, Zeus decide criar uma mulher repleta de dotes oferecidos pelos deuses e a oferece a Epimeteu, irmão de Prometeu.


Antes disso, Prometeu recusou a jovem Pandora de Zeus temendo que ela fizesse parte de algum plano de vingança da divindade roubada. Ao aceitar Pandora, Epimeteu também ganhou uma caixa onde estavam contidos vários males físicos e espirituais que poderiam acometer o mundo. Desconhecedor do conteúdo, ele foi somente alertado de que aquela caixa não poderia ser aberta em nenhuma hipótese. Com isso, o artefato era mantido em segurança, no fundo de sua morada, cercado por duas gralhas barulhentas.


Aproveitando de sua beleza, Pandora convenceu o marido a se livrar das gralhas que lhe causavam espanto. Após atender ao pedido da esposa, Epimeteu manteve relações com ela e caiu em um sono profundo. Nesse instante, não suportando a própria curiosidade, Pandora abriu a caixa proibida para espiar o seu conteúdo. Naquele momento, ela acabou libertando várias doenças e sentimentos que atormentariam a existência do Homem no mundo. Zeus assim concluía o seu plano de vingança contra Prometeu.


Logo percebendo o erro que cometera, Pandora se apressou em fechar a caixa. Com isso, ela conseguiu preservar o único dom positivo que fora depositado naquele recipiente: a esperança. Dessa forma, o mito da Caixa de Pandora explica como o Homem é capaz de manter-se perseverante mesmo quando as situações se mostram bastante adversas. Além disso, esse mesmo mito explora a construção da identidade feminina como sendo marcada pela sensualidade e o poder de dissimulação.

E o que nos martela Nietzsche sobre esse mito e a esperança? Deixemos falar o filósofo:

- “Pandora trouxe o vaso com os males e o abriu. Era o presente dos deuses aos homens, um presente de bela e sedutora aparência, denominado ´vaso da felicidade´. Então, dele saíram voando todos os males, seres vivos alados: a partir de então, vagueiam em torno de nós e causam danos aos homens dia e de noite.

Um único mal não tinha ainda escapado do vaso: então Pandora, seguindo a vontade de Zeus, fechou a tampa e ele ficou lá dentro.

O homem tem para sempre agora o vaso da felicidade em casa e pensa que maravilhoso tesouro tem dentro dele; está a seu serviço e o toma nas mãos quando tem vontade; pois não sabe que esse vaso trazido por Pandora é o vaso dos males e toma o mal que ficou dentro como a maior das felicidades – a esperança.

Zeus queria, com efeito, que o homem, mesmo torturado por outros males, não rejeitasse contudo a vida, mas continuasse a se deixar torturar sempre de novo.

Para isso dá ao homem a esperança: na verdade, ela é o pior dos males, pois prolonga os tormentos dos homens.”

E então? Como toleramos o intolerável do nosso cotidiano? Por termos esperança?



Fonte:

2 – Humano, Demasiado Humano. Nietzsche, F. Ed. Escala. São Paulo. 2006.



2 - A LIBERDADE DO HOMEM COMO PODER EM PICO DELLA MIRÀNDOLA


O tema da liberdade não é exclusividade da antropologia de Picolo, conhecida desde a literatura patrístico-escolástica, já com Agostinho de Hipona a especulação filosófica se debruça sobre o assunto e, salvo exceções, nem mesmo Descartes e sua escola racionalista conseguiram se desvencilhar do tema.

Vence a visão platônica que dicotomiza o homem e transforma alma e corpo quase em realidades independentes e, de acordo com a ênfase dada, prevalece um ou outro ou o conflito entre ambos. O homem se divide em partes quase antagônicas, Agostinho, por exemplo, diz que o homem é um ser livre, mas amarrado aos determinismos interiores das paixões e do instinto. Por isso, para agir bem, isto é, optar pelo caminho bom, o homem precisa libertar-se dos vínculos da carne. Pico vai além de Agostinho, esse último supunha que o pecado original enfraquecia o poder de escolha do homem, Pico, porém, em sua originalidade, dá ênfase maior ao mecanismo psicológico da liberdade em si. Ele não ignora os fatores condicionantes, mesmo os ruins, mas são apenas condicionantes, não determinantes. A liberdade passa a ser o “poder” de opção do que a própria opção. É uma ação positiva sobre a realidade, preservando o sentido original de liberdade. O homem pode eleger seu modo de ser. Ser bom ou mau passa a ser uma decisão do homem e só dele. Um novo homem, que ocupa o centro do universo: “eu te coloquei no centro do mudo para que daí, mais comodamente, possas observar tudo quanto existe no mundo.”, porém, “não te fizemos nem celeste ou terreno (...) sejas o escultor livre da imagem que preferires imprimir em ti mesmo.” “Sejas o que queres ser.”.

Tal categoria de liberdade antecede os iluministas e os supera, Pico vê o homem com poder para situar-se acima das leis físicas, pode, com sua liberdade, sobrepujá-las.

Fonte:

Della Miràndola, P. A dignidade do homem. Ed. Escala. São Paulo.



1 - A VISÃO DO HOMEM BURGUÊS EM MAX SCHELER


Um ponto fundamental para a visão do homem burguês/contemporâneo em Scheler, ponto que mais o aproxima, mas também distancia de Nietzsche, é o entendimento do que vem a ser ressentimento.

Há mesmo, em sua obra: “Da Inversão de Valores” uma discussão direta com a “Genealogia da Moral” de Nietzsche. Segundo Scheler, o complexo de inferioridade frente ao talento e a nobreza naturais, bem como, a necessidade de comparação com os outros leva o homem burguês ao ressentimento.

O autor distinguiria dois tipos de homens burgueses: o ambicioso e o fraco.

Para o ambicioso, não importam os bens, mas a sensação de superioridade decorrente da posse, como essa sensação é precária, necessita sempre possuir mais e mais e, mesmo assim, não conseguiria eliminar sua frustração radical.

O tipo fraco é o mais afetado pelo ressentimento, que o levaria a ignorar qualidades nas pessoas com as quais se compara ou falsificar seu próprio valor. Preocupa-se mais com atribuições do que com o próprio valor e, por causa disso, só percebe valor no que ele próprio atribui, causa de ressentimento em relação as pessoas nobres ou talentosas naturalmente, até mesmo aos talentos intelectuais. Procura sempre compensar as desvantagens através do poder econômico sem jamais conseguir eliminar totalmente o sentimento de inferioridade.

Segundo Scheler, essa forma de ver o mundo impediria o homem burguês de uma visão solidária e social.


Fonte:

Da Costa J.S. Max Scheler: o personalismo ético. Ed. Moderna. São Paulo, 1996.

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